Nas últimas semanas, ao longo de todas as regiões dos Jardins, fez-se notar em todo lugar, dos mais nobres e suntuosos palácios aos mais escusos e traiçoeiros casébres, uma nota. Um pedaço de pergaminho amarelado, tão simples que poderia passar por uma ordem de serviço qualquer, ou quem sabe, um cartaz de procurado. Fato é que, não fosse o conteúdo assombroso deste pedaço de papel, ninguém jamais tomaria nota da mensagem mais chocante que se espalhou em um milênio.
Uma mensagem que surgiu como o vento, e se alastrou como um incêndio. A Ordem do Arcanista havia pela primeira vez feito um pronunciamento público. Havia aqueles entre os mais céticos que sequer acreditavam na existência de tal organização. A magia, claro, sempre fora inegável, visto ser algo inerente à todos os seres, visível até a quem não é capaz de enxergar. A Ordem, no entanto, não tinha forma nem rosto. Contos e boatos eram tudo com o que homens comuns poderiam se contentar.
Ainda sim, o panfleto estava por todo lugar, claro como o dia. Das mais nobres e respeitadas Casas de Justiça daeliseana aos botecos mais sujos e decrépitos enfurnados em um distrito qualquer de Luminaire. Expondo ao mundo uma mensagem, e um convite:
A todos aqueles a quem possa interessar, a Ordem do Arcanista convoca por meio deste quaisquer indivíduos que se julguem capazes a se juntar à expedição de retomada das terras de Lumpur. Aos que aceitarem essa convocação, reuni-vos nos principais portos dos jardins. A Ordem garantirá grande fortuna e prestígios aos que concluírem a tarefa.
(Criminosos e endividados serão perdoados de todas as acusações).
Já fazia algum tempo desde que a notícia começara a correr. Muitos que a receberam não a aceitaram, seja por descrença, medo, ou por terem muito a perder. Isso, é claro, estava em conformidade com os planos da Ordem. A maior parte das pessoas normais não arriscaria a própria vida e segurança por um pedaço de pergaminho velho sem que houvesse nenhuma evidência ou comprovação de sua veracidade.
Também por isso existe a Ordem: A maior parte das pessoas sãs não possui a coragem, determinação ou insanidade necessária para se expor por completo ao desconhecido. Os magos da Ordem, no entanto, são de tudo menos pessoas normais.
Aqueles confiantes ou tolos o suficiente para aceitarem a missão fizeram como o instruído. Ao extremo norte dos Jardins, nas terras de Naruvala onde poucos homens jamais pisaram; Do topo dos mais altos palácios e mansões guardados pela Crisálida; Dos beduínos errantes, nômades do deserto de Ramaliah aos poderosos chefes de guerra das cidades combatentes; Dos políticos e comerciantes mais prestigiosos, homens nobres das casas de Luminaire até os pequenos agricultores das regiões mais internas da ilha e até mesmo sobreviventes vindos da antiga Waiola. Todos, munidos de seus sonhos, desespero, fascínio e remorso.
Todos apostarão suas vidas.